InícioCiênciaEUA alinhar vacinas infantis com Dinamarca põe crianças em risco

EUA alinhar vacinas infantis com Dinamarca põe crianças em risco

O governo dos Estados Unidos planeja uma reformulação abrangente do calendário nacional de vacinação infantil, segundo informações divulgadas pela CNN. A mudança, que alinharia o programa americano ao modelo adotado pela Dinamarca, tem gerado forte preocupação entre especialistas em saúde pública.

Eles alertam que a medida pode colocar crianças em risco e representar um retrocesso de décadas na prevenção de doenças.

Proposta liderada por Robert F. Kennedy Jr.

A proposta, primeiramente reportada pela CNN, alteraria tanto a quantidade de vacinas administradas quanto o momento em que as crianças receberiam essas imunizações.

O secretário de Saúde e Serviços Humanos, Robert F. Kennedy Jr., conhecido por seu ceticismo em relação às vacinas, tem liderado o impulso para modificar o calendário vacinal dos EUA. A reportagem foi produzida por Lauren J. Young e Tanya Lewis, com edição de Claire Cameron.

Críticas unânimes de especialistas

Especialistas ouvidos pela reportagem são unânimes em criticar a iniciativa. Jessica Malaty Rivera, epidemiologista de doenças infecciosas da organização Defend Public Health, afirma que mudar quais vacinas as crianças recebem seria “um erro terrível”.

Ela ressalta que mais crianças poderiam ficar doentes e morrer de doenças preveníveis como resultado da alteração. A organização Defend Public Health é um grupo de voluntários patrocinado por uma entidade sem fins lucrativos.

Comparação entre sistemas de saúde distintos

Analogia de maçãs com bifes

Um dos pontos centrais da crítica é a tentativa de equiparar os sistemas de saúde dos dois países. Malaty Rivera utiliza uma analogia forte para descrever a comparação: “não é comparar maçãs com laranjas; é comparar maçãs com bifes”.

A epidemiologista destaca que não se pode subestimar o valor da cobertura universal de saúde e da infraestrutura extremamente organizada do sistema de saúde dinamarquês.

Necessidade de análise crítica

Jennifer Nuzzo, epidemiologista e diretora do Centro de Pandemias da Universidade Brown, reforça essa visão. “Podemos aprender muito com alguns estudos que vêm de outros países, mas temos que usar uma mente crítica para descobrir o que é aplicável ao nosso contexto e o que não é”, afirma ela.

Essa perspectiva crítica é essencial ao analisar modelos de saúde de nações com realidades distintas.

Diferenças fundamentais ignoradas no plano

Cobertura universal de saúde

Uma diferença crucial entre os Estados Unidos e a Dinamarca, que parece ser evitada por Kennedy e outros funcionários de saúde americanos, é que o país europeu possui um sistema nacional de saúde que cobre todos os cidadãos gratuitamente.

Nos Estados Unidos, esse modelo não existe. “A Dinamarca ou outros lugares têm cobertura universal de saúde onde as pessoas não caem em lacunas de assistência médica como acontece nos Estados Unidos”, explica uma das fontes.

Impacto no acesso às vacinas

Nos EUA, uma mudança no calendário de vacinação também afetaria quem teria acesso às vacinas. O que os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) recomendam influencia o que as seguradoras de saúde privadas cobrirão e quais programas federais, como o Programa de Vacinas para Crianças, subsidiarão.

“Quando mudanças são feitas no calendário, isso terá consequências para quem poderá obter vacinas, quer você as queira ou não”, alerta Nuzzo.

Consequências para a saúde pública americana

Os especialistas temem que a medida possa levar a saúde pública americana a retroceder décadas. A alteração proposta não se limita a ajustes técnicos, mas pode ter impactos profundos na capacidade de prevenção de doenças na população infantil.

O movimento em direção a um calendário menos abrangente preocupa quem trabalha na linha de frente da saúde pública.

“Temos que fazer recomendações de saúde pública que funcionem para todos”, defende uma das fontes consultadas. Essa afirmação ressalta a necessidade de políticas que considerem a diversidade e as desigualdades do sistema de saúde americano, em contraste com a homogeneidade do modelo dinamarquês.

A busca por equidade no acesso às vacinas permanece um desafio central.

Futuro do plano e adiamento do anúncio

O plano ainda pode ser modificado, de acordo com a CNN. O Departamento de Saúde e Serviços Humanos havia agendado uma coletiva de imprensa sobre saúde infantil para uma sexta-feira, mas desde então adiou o anúncio para o próximo ano.

Esse adiamento sugere que podem estar ocorrendo discussões internas sobre os rumos da proposta. A fonte não detalhou o conteúdo dessas discussões.

Enquanto isso, a comunidade de saúde pública continua vigilante. O debate sobre o calendário vacinal reflete tensões mais amplas sobre a direção das políticas de saúde nos Estados Unidos.

A possibilidade de retrocesso em conquistas históricas na prevenção de doenças mantém especialistas em alerta máximo, aguardando os próximos capítulos dessa história que afeta diretamente a saúde das futuras gerações.

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