O que é neurodiversidade em animais
A neurodiversidade representa variações na forma como os indivíduos se comportam e como seus cérebros funcionam. Essas diferenças resultam de variações estruturais e químicas no cérebro, afetando o desenvolvimento neurológico.
Em humanos, o conceito é amplamente discutido, mas pesquisas recentes expandem essa compreensão para o reino animal. Estudos indicam que cães, ratos, camundongos e primatas não humanos podem apresentar sinais genéticos e comportamentais de neurodivergência.
Além disso, diferenças estruturais em genes associados ao comportamento hipersocial foram encontradas em cães. Essas variações genéticas podem explicar parte da diversidade comportamental observada em diferentes raças.
Evidências científicas em cães
Mutações genéticas
Pesquisas genéticas revelaram casos específicos em raças caninas. Alguns cães da raça Beagle possuem uma mutação no gene Shank3, que está associado ao autismo em humanos.
Esses animais com a mutação demonstram pouco interesse em interagir com pessoas, mostrando um padrão comportamental distinto. Eles também apresentam redução na sinalização intercelular em regiões do cérebro relacionadas à atenção.
Química cerebral
O comportamento impulsivo em cães está ligado a baixos níveis dos neurotransmissores serotonina e dopamina. A serotonina é importante para a estabilidade emocional, enquanto a dopamina auxilia na concentração.
Esses desequilíbrios podem contribuir para características comportamentais que lembram condições neurodivergentes em humanos.
Casos específicos por raça
Cocker Spaniel
Observações práticas com cocker spaniels mostram padrões interessantes. Esses cães são inteligentes e carinhosos, mas também são às vezes distraídos, impulsivos e extremamente sensíveis.
Essas características podem refletir variações neurológicas específicas da raça. A convivência com vários cocker spaniels permite observar essas nuances comportamentais no dia a dia.
Beagle
Os beagles com mutação no gene Shank3 apresentam comportamentos mais específicos. A falta de interesse na interação social e as alterações na atenção sugerem um perfil neurodivergente particular.
Esses achados são consistentes com o que se conhece sobre o mesmo gene em humanos, embora as manifestações possam variar entre espécies.
Interação entre cães e humanos
Acoplamento neural
Estudos recentes investigaram a conexão neural entre espécies. O acoplamento neural ocorre quando a atividade cerebral de dois ou mais indivíduos se alinha durante a interação.
Uma pesquisa de 2024 descobriu que esse fenômeno acontece quando cães e humanos olham nos olhos um do outro. Essa sincronização cerebral pode ser afetada pelas características neurodivergentes dos animais.
Intervenções experimentais
Intervenções experimentais mostraram resultados promissores. Uma única dose da droga psicodélica LSD foi administrada a cães com a mutação Shank3.
A administração resultou em aumento da atenção e melhoria da interação neural com pessoas ao longo de cinco dias. Esses achados sugerem possibilidades terapêuticas, embora sejam necessárias mais pesquisas.
Prevalência de problemas comportamentais
Dados abrangentes reforçam a relevância do tema. Um estudo de 2024 coletou informações relatadas por donos de mais de 43.000 cães nos Estados Unidos.
Os resultados mostraram que mais de 99% dos cães de estimação participantes apresentavam pelo menos um problema comportamental. Essa alta prevalência indica que variações comportamentais são extremamente comuns na população canina.
Esses problemas podem variar desde questões leves até condições mais complexas que afetam a qualidade de vida do animal. A compreensão da neurodiversidade ajuda a contextualizar muitos desses comportamentos dentro de um espectro natural de variação neurológica.
Limites do conhecimento atual
Apesar dos avanços, muitas questões permanecem em aberto. A pesquisa sobre neurodiversidade em animais ainda está em estágios iniciais, com a maioria dos estudos focando em mecanismos específicos.
Não há consenso sobre como definir ou diagnosticar condições como autismo em cães, pois os critérios humanos não se aplicam diretamente a outras espécies.
Além disso, as intervenções terapêuticas, como o uso de LSD, são experimentais e requerem mais investigação. A fonte não detalhou efeitos colaterais ou aplicabilidade prática dessas abordagens.
