Em 1990, a estação de rádio KIIS-FM (102.7), em Los Angeles, nos Estados Unidos, anunciou um concurso que valia um Porsche 944 S2. O prêmio, avaliado em US$ 50 mil na época, seria entregue ao 102º cliente que ligasse para o telefone da emissora naquele dia.
Quem acabou vencendo foi Kevin Poulsen. Sua vitória, porém, não foi fruto do acaso. Ele e colegas usaram técnicas de phreaking, uma forma de hacking de sistemas telefônicos popular antes da internet, para garantir que ninguém mais pudesse ganhar.
As origens de um hacker precoce
Desde criança, Kevin Poulsen demonstrava fascínio por “destravar” coisas. Ele aprendia a abrir portas com clipes de papel, por exemplo.
Na vida adulta, ele adotou o codinome Dark Dante e se tornou um prodígio do phreaking. Essa é a arte de explorar e manipular redes de telefonia.
Histórico de invasões
Suas habilidades não se limitavam ao phreaking. Dark Dante já havia invadido a ARPANET, precursora da internet, e era procurado pelo FBI por espionagem.
Esse histórico o preparou para o golpe que o tornaria famoso.
O golpe que travou Los Angeles
Para garantir a vitória no concurso da rádio KIIS-FM, Poulsen e sua equipe assumiram o controle das linhas que entravam na estação. Com isso, bloquearam todas as outras chamadas recebidas pela emissora.
Para o radialista e o público, as linhas pareciam mudas ou ocupadas. Criou-se a ilusão de que ninguém conseguia entrar.
Essa situação foi mantida até que se aproximassem da ligação número 102. Nesse momento, Poulsen desbloqueou sua própria linha e fez a chamada vencedora.
A celebração e os prêmios
Ao fazer a ligação bem-sucedida, Kevin Poulsen foi ao ar ao vivo na rádio, celebrou e garantiu o Porsche 944 S2.
Seus amigos também se beneficiaram do esquema. Eles ganharam outros prêmios do concurso, como:
- Viagens ao Havaí
- Dinheiro
O caso rapidamente ganhou notoriedade. Ele mostrou como as falhas na infraestrutura telefônica da época podiam ser exploradas.
Em pouco tempo, a história do Porsche hackeado se espalhou. Isso chamou a atenção da mídia e das autoridades.
Exposição na televisão e queda
Em 1991, o episódio envolvendo Poulsen foi parar no programa de televisão “Unsolved Mysteries” (Mistérios sem Solução). Isso aumentou sua fama.
Uma possível provocação
Curiosamente, quando o episódio foi ao ar, as linhas telefônicas 1-800 do programa misteriosamente caíram. A fonte não detalhou se foi um ato de provocação.
No entanto, essa exposição acabou levando à sua captura. Civis que assistiram ao programa o reconheceram em um supermercado.
Foi lá que o FBI o encontrou e o prendeu.
Da ilegalidade à contribuição técnica
Após seu período de atividades ilícitas, Kevin Poulsen redirecionou suas habilidades. Ele participou da criação do SecureDrop.
O SecureDrop é um meio seguro para entrega de informações sensíveis a jornalistas. Essa participação demonstra uma mudança em seu perfil.
Essa trajetória reflete uma transição. De ações que exploravam brechas tecnológicas, ele passou a fazer contribuições que visam proteger a privacidade e a liberdade de imprensa.
Um golpe de uma era extinta
O caso do Porsche hackeado ilustra uma era de transição tecnológica que não existe mais. Na época, Poulsen aproveitou as vulnerabilidades dos sistemas telefônicos analógicos.
Isso se tornou obsoleto com o avanço digital. Atualmente, os sorteios ocorrem principalmente por meio de:
- Redes sociais
- Cadastros em sites
Esses novos formatos exigem um tipo de hack totalmente diferente. Eles miram em bancos de dados ou bots de inscrição, e não mais no controle direto da infraestrutura física.
Assim, a história de Kevin Poulsen permanece como um marco na evolução da segurança digital. Ela lembra os tempos em que a manipulação de linhas telefônicas podia render um carro esportivo.
Seu legado, entretanto, vai além do golpe. Ele inclui ferramentas que hoje ajudam a proteger informações críticas no jornalismo.





